Responsabilidade Social da Empresa em tempos de Mudanças Climáticas
Acrescentemos ao título, “em tempos de mudanças
climáticas de origem antrópica, de origem humana”. Porquanto, mudanças
climáticas é um fenómeno que acompanha a evolução humana, porém, nos últimos
tempos temos verificado alguma acentuação nas causas, intensidade e
consequências das mudanças climáticas. E para melhor percebermos o porquê desse
incremento, talvez as quatro revoluções industriais oferecem elementos de
elucidação
Primeiro, temos a revolução industrial inglesa
(séculos XVI e XVII), isto é, 1765 e a criação da máquina à vapor, máquina de
tecer e o uso do comboio como dos principais meios de transporte de
mercadorias. Segundo, a revolução de
1870 – descoberta da eletricidade, descoberta e uso do gás natural (e a
produção de fertilizantes para o uso agrícola) e a descoberta do petróleo.
Terceiro, a revolução nuclear e tecnológica de 1969, porquanto houve nesse
período a descoberta da energia nuclear e os avanços tecnológicos. Quarto, por
fim, a revolução numérica, robótica e da Inteligência Artificial (IA); a
revolução do século XXI que é relacionada à revolução tecnológica. Aliás, todas
essas revoluções estão interligadas.
A importância dessa breve demonstração serve para
acomodar a ideia de que essas revoluções estão estritamente ligadas não apenas
entre elas, mas também à exploração do meio ambiente. O comboio precisava de
carvão, e carvão cria deflorestação. O gás natural e o petróleo são dos
combustíveis fosseis que mais contribuem para as mudanças climáticas, por via
do aquecimento global. A energia nuclear é demasiado ariscada para o meio
ambiente – basta lembrar Chernobyl, Ucrânia, meados da década 80. Porém, a mais
recente das revoluções, procura reconciliar-se com o meio ambiente, pretendendo
usar de forma limitada os recursos naturais, visto que ela se insere no contexto
do aumento das preocupações de proteção e preservação ambientais.
Paralelamente, podemos relacionar com as revoluções
industriais o significado moderno de empresa. Isso porque, vão surgir projectos
de exploração da natureza, do meio ambiente in extenso, para fazer
lucro. E esses projectos estarão inseridos dentro da sociedade, dentro das
comunidades.
Este texto se inclui nessa relação entre exploração
do meio ambiente para fazer lucro e a as consequências dessa exploração. É
evidente que tomamos a revolução industrial inglesa como marco temporal, mas
também contextual da nossa abordagem. Antes de avançar, importa lembrar que é
um princípio lógico humano de que: as consequências trazem responsabilização.
Esta feita nessora a ligação entre empresas, mudanças climáticas, e
responsabilização.
Neste momento, pode-se pensar que quando arrolamos
a Responsabilidade Social da Empresa (RSE) às mudanças climáticas, estamos a
referir-nos apenas à empresas poluidoras ou directamene exploradoras de recurso
naturais e do ambiente. Não. Não, pois todas empresas participam da exploração
do meio ambiente, directa ou indirectamente. Então, aqui, nos referimos as
diversas empresas, para não escrever todas.
Tomemos uma empresa simples de catering por
exemplo. Esta pode argumentar que não participa na exploração dos recursos
naturais. Mas basta uma breve analise para percebermos que ela propicia o
consumo de carne bovina ou caprina, tal carne que é produzida em campos
distantes da cidade, aonde se precisa de transporte para ir e voltar dos
respectivos campos, e quem fala de transporte fala de uso de combustíveis,
muitas vezes fosseis. Ela é parte do que os economistas ambientais reclamariam
de cadeia de valor de exploração do meio ambiente. Por outro lado, a queima de
combustíveis fosseis é das principais causas do aquecimento global, uma das
componentes fulcrais das mudanças climáticas
Ademais a produção de bovinos, a agropecuária é
também uma das principais causas do aquecimento global. E podemos estirar o
exercício para todas as áreas, iremos encontrar traços que nos ligam ao
ambiente, mediata ou imediatamente. Notemos que a simples construção de uma
habitação, impacta o ambiente, por meio dos ecossistemas existentes
anteriormente naquele lugar, ou da poluição causada pelos detritos da
construção – remeto o leitor para o anterior texto sobre a diferença entre
impacto ambiental e “impacto ecológico”.
Posto isso, recentremos a analise. Subho Mukherjee
Isso porque, mesmo que as mudanças climáticas, o
aquecimento global, a perca de biodiversidade, entre outros, tenham verificado
um incremento após a primeira revolução industrial, é apenas recentemente, aos
fins do século passado, que ganham importância na agenda dos Estados. Inicialmente, com a conferência sobre a
terra, de Estocolmo, no início da década 70, depois com o relatório Brundtland
– nosso futuro comum – nos finais da década 80, e finalmente com a conferência
do Rio de Janeiro e o protocolo de Kyoto, no começo e no final da década 90,
respectivamente.
Então, tradicionalmente a RSE significa a inclusão
das preocupações sociais, da comunidade circunjacente na agenda da empresa.
Isso se traduz, muitas vezes, pela construção de recintos desportivos, centros
culturais, escolas, centros de saúde/hospitais, entre outros. Pois, a empresa
percebe que tira vantagens da comunidade, e procura assim devolvê-las. E
atualmente quais são as preocupações da sociedade?
Temos uma pista na definição actualizada de RSE.
Youmatter
Muitas vezes, entretanto, se percebe a RSE como
voluntária; um tanto quanto paradoxal: uma responsabilidade voluntária. De
qualquer forma, a RSE indica-nos, nos lembremos, que a empresa deve fazer
esforços para integrar a preocupação das populações circunvizinhas na sua
agenda. Quanto maior a empresa, maior o raio de acção e maior o impacto de sua
acção.
Nessora, a empresa tem mais um desafio na era das
mudanças climáticas: não apenas integrar as outras preocupações da sociedade,
mas privilegiar as preocupações ambientais, de combate ao aquecimento global.
De outro modo, esta é também uma preocupação central da empresa, visto que o
aquecimento global é uma ameaça existencial à longo prazo, uma ameaça para
todos. Pois, sem humanos não existe comunidade, sem humanos não existe empresa.
Ademais, a empresa não é alheia à comunidade aonde se insere – ela é parte da
comunidade.
Ao fim deste curto texto, podemos perceber que a
RSE é na verdade uma obrigação ética, moral ou deontológica. E muitas vezes é
traduzida em obrigação jurídica para a empresa. Ademais, a RSE é de interesse
da empresa que a implementa. Finalmente, nos tempos que correm, com as
preocupações ambientais no centro do interesse social, percetível ou não, as
empresas podem procurar privilegiar este aspecto na sua agenda de RSE, sem
evidentemente negligenciar elementos mais prementes. A decisão é sempre, na
verdade, contextual. Mas para empresas quais suas acções tem um forte impacto ambiental
(ecological footprint), é prudente privilegiar esse elemento.
Bibliografia
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