A Nossa Culpa

A Nossa Culpa

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L: Ah! Mas de quem é a culpa? Porquê estamos nesta situação?

B: Talvez a culpa seja de todos nós. Uns até contribuem para a desmeritarizição da sociedade. para a valorização do demérito na sociedade. Outros, apáticos, assistem esse processo. E poucos tentam melhorar alguma coisa. Doutro modo, li noutra vez que 33% das pessoas procuram fazer algo de errado, outros 33% procuram fazer algo de certo e outros 33% assistem essa dualidade.

C: Hummmmm!!! Como assim?

B: Veja que todos reclamamos dos problemas sociais existentes, i.e., corrupção, criminalidade, degradação moral, por aí em diante. Mas poucos nos perguntamos qual é o nosso papel nesses problemas. Tanto na causa, assim como na resolução.

L: Não percebo. Podes elaborar?

B: Dizem que os exemplos nos ajudam a compreender melhor, então, vou exemplificar. Veja os motoristas e cobradores de chapa/transportes públicos (chapeiros); alguns deles encurtam rotas, outros não cumprem com o contracto que assinaram com as autoridades (municipais), não carregam os passageiros nas paragens e selecionam os passageiros que querem carregar, com base em critérios arbitrários num serviço público-privado, só para mencionar algumas infrações.

Mas, quando eles fazem isso, se esquecem que dentre os passageiros que sofreram com as respectivas infrações, existem agentes da polícia, existem médicos e enfermeiros, existem comerciantes e outros funcionários públicos e privados. E o que esses funcionários aprendem: aprendem a fazer ligação (de alguma forma, subornar os chapeiros) e não fazer fila; aprendem  que os mais espertos são os primeiros a subir nos chapas e não os que cumprem com as filas de espera; aprendem que para um serviço que é de direito dos cidadãos (apesar de alguns chapas serem privados, os seus contractos são de prestação de serviços públicos), esses mesmos cidadãos devem humilhar-se.

E isso passa a ser um símbolo do que vai suceder noutros lugares (hospitais, escolas, centros comerciais…). Pois, muitos de nós somos inclinados ao mal, a vingança, salvo alguns razoáveis.

Inversamente, o que dizer daquele que é conveniente à atitude dos chapeiros e diz: “é como as coisas são, não serei eu a mudar tudo isso”.

C: Porém, nesse exemplo que trazes, eles não cumprem com sua obrigação porque muitos dos policias de trânsito são corruptos. Ou muitos dos policias são corruptos porque eles não cumprem com suas obrigações? Porque já ouvi muitos dos chapeiros a reclamar da polícia (incluindo a municipal).

B: Interessante. Dificilmente saberia responder. Porém note que de qualquer forma, está-se a criar um ciclo negativo. Prejudicial para a justiça social que queremos. Devíamos nos perguntar, naquela situação, o que eu faria? (talvez carregar os cidadãos que obedeceram a fila) E na situação em que me encontro o que eu farei? (talvez não pagar o valor de ligações e ir formar fila). Nos indagar sobre a universalização das nossas acções, como propôs Kant.

E este exemplo pode ser paralelizado para inúmeras situações. Ele existe dentro de uma sociedade.

C: Pois.

L: É racional isto que discutimos. Lembro-me agora que já ouvi muitos compatriotas dizer “vamos ver no meu sector”, como forma de ameaça, como se quisesse informar que cada um faz e desfaz no seu sector. A acontecer, é grave. E mais grave é se considerarmos que há cidadãos sem “sector”.

C: Mas tudo isso parece filosófico e sem resultados palpáveis.

B: Sim. Porém, para ser palpável, temos de agir, é verdade. Mas para agir temos de pensar, discutir… não? Senão nos parecemos aos animais; esses que apenas agem sem raciocinar.

C: Fair enough. Alias, é justo o teu pensamento.

B: O meu pensamento é que todos devemos nos perguntar se o que fazemos ajuda a melhorar a sociedade ou não ? aliado à esse pensamento, temos de manter a esperança de que nossa acção, a mínima que seja, pode influenciar a melhoria do estado do mundo. Mas deve ser uma boa acção. Imaginemos se dois terços de todos nós for tomar as melhores acções à cada instante! Quão belo seria?

Até, permitam-me parafrasear Tolstoi quando considerava que existem duas forças no mundo, uma do bem e outra do mal, e existem pessoas a lutar pela força do mal, então é racional e de alguma forma obrigatório que quem não se identifique com o mal, lute pelo bem.

L: e o que é uma boa acção?

B: ah! Podemos guardar esse debate para outro dia. Não?

L: Acordado.

C: Certo.


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