A esperança não é um sentimento imaginário e nem distante, mas prático e próximo!

A esperança não é um sentimento imaginário e nem distante, mas prático e próximo!

Quando pensamos em esperança, a priori lha percebemos como um ideal. A esperança é tida como algo teórico que não oferece conteúdo prático, e se oferece é de forma distante e não próxima. Por isso que a importância da palavra esperança é relativamente baixa. Pensemos na frase “tenha esperança que os problemas irão acabar”. Essa frase nos transmite a ideia de futuro, de distância (“os problemas IRÃO acabar,” mas “não acabaram”). E muitas vezes, termina aí. Poucos são os que agem paralelamente a esperança. Muitos esperam, tanto é que, a esperança é um substantivo que se relaciona etimologicamente ao verbo esperar, ESPERA[R]nça.

Entretanto, a palavra esperança não pode nos deixar inativos. A esperança não é imaginaria, mas prática. Porquanto, existe a necessidade de manter a acção para que a esperança se materialize. Certo, a esperança é uma crença. E muitas vezes confundimos crença com inação. Por isso opomos-lha à razão, ou ao materialismo. Todavia, a própria ideia de crença nos convida para a ação. Porquanto, quando nós cremos num fenómeno, numa ideia ou qualquer outro aspecto, nós agimos para o alcance absoluto de tal fenómeno. É um alcance absolutamente infinito.

Pensemos na ideia de justiça. Quando se crê numa sociedade justa, é razoável que nos comportemos com base nessa ideia, não infligindo injustiças no dia-a-dia, defendendo os injustiçados, entre outros aspectos. Ao contrário, se apenas limitarmos a crença à um pensamento distante da acção, um pensamento imaginário, essa crença não vai effectivar-se na prática e não teria o valor de ser. A crença deve nos obrigar a agir. Por isso, aos crentes religiosos (no sentido comum da palavra), de forma geral, é inaceitável matar uma alma inocente, é pecado para eles porque não condiz com a crença que eles têm de uma sociedade guiada por valores religiosos.

Desse modo, a esperança não é distante, mas próxima. Porque apesar de pensarmos num futuro quando temos esperança nalguma coisa, nós temos de fazer ações hoje, agora, para a materialização desse futuro. É normal ouvir as crianças dizer, “eu tenho a esperança de ser médico, quando crescer”. Essa afirmação nos remete, de forma superficial, para o futuro. Mas existe uma condição para a realização material desse pensamento, e é uma condição que nos trás de volta para o presente: estudar para tornar-se médico. Pois, o facto de ser médico, não acontece apenas por crer que se pode ser médico mas por passos, feitos diariamente, hoje, hoje, hoje, para que se alcance verdadeiramente esse objectivo de ser médico.

Por isso, para quem tem esperança numa sociedade melhor, num país melhor, e porquê não num mundo melhor? talvez seja prudente agir hoje para materializar a esperança que temos do futuro. Agir hoje é se perguntar a cada acto, até o mais ínfimo possível, se este acto vai ao encontro do que se pretende como sociedade. Uma quase inspiração de um dos imperativos categóricos de Kant: a ideia de universalização da nossa ação.

E permitam-me finalizar com uma ideia ainda relacionada à esperança. A esperança colectiva começa com a ação individual. Isso é, se queremos uma sociedade mais justa, é razoável que cada um de nós deva ser mais justo, até nos actos mais minúsculos. E porque os exemplos são mais práticos e elucidativos, avancemos-lhes. Para um país melhor, em suas todas dimensões, temos todos de agir de melhor maneira.

Assim, se eu sou polícia, devo exercer a minha função ao mais alto nível, evitando cometer suborno, tratando os cidadãos com respeito e consideração e sendo um agente de confiança da comunidade. Se eu sou médico, devo tratar todos os pacientes com o mesmo zelo que trataria um dos meus conhecidos (é difícil, mas é possível), devo evitar aceitar subornos. Se eu sou professor, devo ensinar à todos os estudantes como que se de meus filhos se tratasse, oferecendo bases para a formação de cidadãos com um alto sentido moral, cívico e patriótico.

Ainda mais importante, se eu sou cidadão “normal”, cidadão ponto, devo respeitar as leis do lugar aonde vivo. Mesmo que por vezes me sejam desfavoráveis, pois existem mecanismos para lhas mudar, e respeitar a lei é evitar corromper os agentes da polícia, da saúde, da educação e outros servidores públicos, para obter ganhos pessoais em detrimento de ganhos societais. O cidadão deve ser um exemplo para seus pares. E por fim, todos nós devemos compreender as circunstâncias aonde nos encontramos; se há falta de recursos, temos sim de reclamar para que se criem melhores recursos, mas mais ainda, temos de improvisar, inventar e criar recursos nós mesmos para nós mesmos em serviço dos outros.

Então, que a nossa esperança, hoje, seja a causa de uma sociedade melhor, amanhã!


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