Qual é o significado do alargamento dos BRICS?
Brasil, Rússia, India, China e África do Sul, é o acrônimo do fórum BRICS (do inglês: Brazil, Rússia, India, China and South Africa). E podemos começar este texto com uma nota positiva sobre a recente cimeira do BRICS, i.e., a 15ª cimeira do BRICS, realizada em Joanesburgo, na África do Sul, a 22 de agosto de 2023. Nota positiva na medida em que o continente africano participa activa e historicamente de um provável processo de transição da ordem mundial. Isso é, quem for, dentro das próximas décadas, estudar a história das relações internacionais, vai perceber que na cimeira de Joanesburgo, houve o aumento dos países que participam do fórum BRICS. E esse aumento contribui para os desígnios da multipolaridade, um desiderato do BRICS. Portanto, esse aumento ocorreu no continente africano. África participa assim, de forma activa, na restruturação da arquiectura do poder no sistema internacional.
Os encontros formais do BRICS começaram em
2006. Aquando da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, sob
proposição russa, os ministros dos negócios estrangeiros da Rússia, Brasil e
China, e o ministro da defesa indiano mantiveram encontros à margem, culminando
com um comunicado conjunto sobre os principais assuntos globais
O fórum BRICS se posiciona então como um polo
de mudança da ordem internacional dominada pelo ocidente. Podemos aqui abrir um
parenteses e explicar que ordem internacional é a forma como está estruturado o
poder no Sistema Internacional. De forma resumida, temos a ordem multipolar, a
ordem bipolar, a ordem uni-multipolar, e a ordem unipolar. A ordem multipolar
significa existência de vários Estados com domínio dos assuntos internacionais;
a ordem bipolar significa existência de dois Estados com domínio dos assuntos
internacionais; a ordem uni-multipolar significa existência de um Estado com domínio
internacional relativamente elevado face à outros Estados com também algum domínio
internacional; por fim, a ordem unipolar significa existência de apenas um
Estado com domínio internacional.
Fechando o parenteses, percebemos que existe a
possibilidade de existência de diferentes tipos de estrutura de poder no Sistema
Internacional. E por vezes os polos de poder não são feitos por apenas um
Estado, mas sim por um conjunto de Estados. Tomemos o exemplo da guerra fria, também
conhecida como ordem bipolar – pela existência de dois polos de poder: um
capitalista (liderado pelos Estados Unidos da América – EUA) e outro socialista
(liderado pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS).
Com o fim da guerra fria, a desagregação da
URSS, houve um período em que os EUA lideraram os assuntos globais. Podemos
ariscar considerar que isso sucedeu de 1991 até 2008, com a crise financeira
global iniciada nos EUA (que demonstrou a fragilidade do sistema financeiro
americano), ou 2014 com a anexação da Crimeia pela Rússia (não tendo os EUA
demonstrado uma reação à altura para prevenir ou reverter a acção russa).
Porém, pode-se igualmente, apontar 2001 e os ataques às torres gémeas e o pentágono
(símbolos dos poderes económico e militar dos EUA) como o ano que marca o fim
da hegemonia global dos EUA. Mutatis Mutandis, é quase consensual que
durante a última década do seculo passado, o poder dos EUA era sem paralelo. e
resumindo, é mais razoável considerar 2014 como o marco da perca de poder
hegemónico dos EUA.
Desse modo, essa liderança dos assuntos
globais por parte dos EUA evidencia-se pela ação desse Estado para satisfazer
interesses próprios. Podemos referenciar a invasão ao Afeganistão e ao Iraque,
no início da década 2000. Depois, o próprio impacto da crise financeira nos EUA
sobre todo o mundo – que demonstra a influencia dos acontecimentos nos EUA no
Sistema Internacional.
Por conseguinte, alguns Estados ocidentais,
como os membros da União Europeia (EU), Japão, Coreia do Sul, Austrália, Nova Zelândia,
entre outros, posicionaram-se a favor da liderança dos EUA. Contrariamente, o fórum
BRICS se posiciona como uma alternativa a um mundo unipolar. Isso é, o BRICS
pretende desafiar a hegemonia dos EUA (incluindo o ocidente global) no domínio
dos assuntos globais.
Por fim, o acréscimo de mais Estados para
membros dos BRICS significa uma aceitação por parte dos actores, estatais que
manifestaram e efectivaram a adesão ao fórum, em participarem no processo de transição
da ordem internacional. E esses actores estatais representam diferentes
sensibilidades geográficas. Isso é, se nos integrantes anteriores já tínhamos
dentro do fórum BRICS países de quase todos continentes (considerando Oceânia
como o “continente” não representado): Brasil, do continente americano, no
subcontinente da américa do sul; Rússia, do continente europeu, no
subcontinente leste europeu; India e China, do continente asiático; e África do
Sul, do continente africano.
In fine, com o alargamento dos países que agora
integram o BRICS, essa representação aumentou. Temos Arábia Saudita, Irão e
Emiratos Árabes Unidos do continente asiático no subcontinente do Médio
Oriente; Etiópia e Egipto do continente africano; Argentina do continente
americano, no subcontinente da américa do sul. Ora, o alargamento do BRICS
significa aceitação, por parte dos Estados – principais actores das relações
internacionais, em recriar um mundo multipolar, sem o domínio único dos EUA,
especificamente e ocidente, de forma geral.
Bibliografia
1. INFOBRICS. (2023). INFOBRICS. Obtido de Histor of
BRICS: http://infobrics.org/page/history-of-brics/
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