Eventos Climáticos Extremos: Uma Realidade Incontornável?

Está ainda fresco nas nossas mentes a ocorrência dos ciclones Idai e Kenneth, em 2019. Mais recente ainda, o tremor de terra ocorrido na Turquia ou as inundações peri-urbanas ocorridas em Boane. O que podem esses eventos ter em comum? A hipótese é de que podemos os agrupar naquilo que se considera eventos climáticos extremos. Isso é, eventos climáticos – como chuvas, erosões, ciclones... – que, devido às mudanças climáticas, vão se tornando intensos e frequentes. “Os eventos extremos são fenômenos climáticos e/ou meteorológicos que ocorrem em volume acentuado e fora dos níveis considerados normais. Secas prolongadas, chuvas torrenciais e ondas de calor, por exemplo, apresentavam uma ocorrência muito menor do que vemos hoje, mas a crise climática tem tornado tais eventos extremos mais severos e frequentes.” (GreenPeace, 2023).

Esses fenômenos naturais poderão então acontecer de forma recorrente em curtos intervalos, e ocasionando estragos demasiados. Aliás, 2019 foi a primeira vez que, desde que há registo, em Moçambique, sucederam-se dois ciclones tropicais na mesma estação (UNICEF, 2023). Do outro lado do mundo, o presidente turco considerou o terremoto de Fevereiro de 2023, como o mais desastroso que se tem registo nos últimos 100 anos (The Economist, 2023). Todo o argumento que sustenta a ocorrência de eventos climáticos extremos relaciona-se a aceitação de que há mudanças climáticas do tipo antrópico.

Lembremos que, regra geral, as mudanças climáticas se distinguem entre (i) naturais e (ii) antrópicas. As primeiras ocorrem devido aos fenômenos normais de evolução do planeta e outras estrelas, como por exemplo o ciclo solar de Schwabe. As segundas ocorrem devido a atividade humana, como deflorestação, por exemplo. Assim, os eventos climáticos extremos estão fortemente relacionados com as mudanças climáticas do tipo antrópico – influenciadas pela ação humana. Logicamente, há uma associação entre as duas formas de mudanças climáticas, o que torna os eventos climáticos tradicionais mais devastadores. 

Podemos expor alguns exemplos de eventos climáticos extremos que acontecem em diversos continentes. Na Austrália, nos Estados Unidos da América (EUA), especificamente em Califórnia, e no Pantanal brasileiro, registam-se incêndios florestais intensos; no hemisfério norte, se tem registo das piores ondas de calor extremo; o degelo (perca de gelo) no Ártico e na Sibéria, tem ocorrido em ritmos elevados; há recorrência de furacões nos EUA; inundações de verão na China; seca na Tailândia; ciclones na Índia (a exemplo da Amphan); entre outros. (BenanDjery, 2023). É de notar que esses eventos não são novos, mais a proposição é de que sua intensidade e ocorrência aumentou em decorrência das mudanças climáticas.

Ora, sendo uma realidade que nos faz frente, surge a pergunta: é incontornável e irremediável? Uma pergunta que provavelmente não tenha uma resposta direita. Mas dois elementos permitem-nos perceber como a Organização das Nações Unidas (ONU) recomenda que os países façam face as mudanças climáticas, em geral, e os eventos climáticos extremos, em particular. Nos referimos para adaptação e mitigação. Adaptar-se as consequências das mudanças climáticas; e mitigar (reduzir) as atividades que causam mudanças climáticas (NASA, 2023).

Todavia, a mitigação é uma ação que não merece demasiada atenção, neste texto. Porquanto Moçambique é dos países que pouco contribui para a poluição da terra, para ocorrência de mudanças climáticas. A mitigação é, certo, tarefa de todos, mas ela relaciona-se mais aos países que mais poluem; estamos a nos referir aos países fortemente industrializados, os ditos desenvolvidos. Mas, perceba-se, não se está a excluir Moçambique nos esforços de mitigação. Aliás, os Estados tem responsabilidades comuns, mas obrigações diferenciadas para fazer face às mudanças climáticas.

Nos interessa a adaptação como alternativa para fazer face as mudanças climáticas. Ai, fala-se da adaptação por meio do acesso universal aos meios de alerta precoce (Nacoes Unidas - Brasil, 2023). Então, um dos aspectos que pode ajudar a reduzir os danos causados pelos eventos extremos são os sistemas prévios de alerta. Esses já existem, mas podem ser melhorados. Por exemplo, para as zonas de alto risco, há necessidade de engajar a população local no monitoramento e consequente ação de eventos climáticos extremos. Em termos práticos se está a sugerir que a população local esteja actualizada sobre os fenômenos climáticos extremos que podem atingir suas localidades e juntamente com os diferentes actores, públicos e privados, possam decidir a melhor forma de fazer face, o que inclui deslocação para lugares seguros, plantio de árvores, construções resilientes, etecetera.

Por fim, temos de admitir que as mudanças climáticas são um fenômeno complexo, e como tal precisam de repostas multidimensionais. Ora, não nos atrevemos a responder esse problema neste curto ensaio. Oferecemos apenas elementos de reflexão para a solução do problema, ou ao menos, para redução dos danos causados pelo problema. Como sabemos, Moçambique é dos países mais vulneráveis aos efeitos perversos das mudanças climáticas, embora sendo dos que menos contribui para a ocorrência dos mesmos. A escolha deve ser feita: lamentar ou perceber e agir sobre o fenômeno? A última nos parece mais adequada.

 

Referências Bibliográficas

1. BenanDjery. (23 de Fevereiro de 2023). Benandjery.com. Fonte: Benandjery: https://www.benandjerry.com.br/novidades/2020/11/extreme-weather-events

2. GreenPeace. (24 de Fevereiro de 2023). GreenPeace Brasil. Fonte: www.greenpeace.org: https://www.greenpeace.org/brasil/informe-se/justica-climatica/eventos-extremos/

3. Nacoes Unidas - Brasil. (23 de Fevereiro de 2023). Nacoes Unidas, Brasil. Fonte: www.brasil.un.org: https://brasil.un.org/pt-br/213450-eventos-climaticos-extremos-mostram-necessidade-de-mais-acoes-em-2023

4. NASA. (25 de Fevereiro de 2023). Climate Nasa. Fonte: climate.nasa.gov: https://climate.nasa.gov/solutions/adaptation-mitigation/

5. The Economist. (24 de Fevereiro de 2023). The Economist. Fonte: economist.com: https://www.economist.com/the-economist-explains/2023/02/06/what-made-the-earthquake-in-turkey-and-syria-so-deadly?utm_medium=cpc.adword.pd&utm_source=google&ppccampaignID=18151738051&ppcadID=&utm_campaign=a.22brand_pmax&utm_content=conversion.direct-resp

6. UNICEF. (25 de Fevereiro de 2023). Unicef Mocambique. Fonte: www.unicef.org: https://www.unicef.org/mozambique/ciclone-idai-e-kenneth

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