O Que Vamos Dizer aos Filhos dos Nossos Filhos? [Resposta ao texto] "Qual Patriotismo Moçambicano no Século XXI?)

Por, Joaquim Simango. 


"Uma pátria compõe-se dos mortos que a fundaram assim como dos vivos que a continuam.” -- Ernest Renan.

Os psicólogos sociais têm dado pouca importância à questão do porquê é que os indivíduos se sentem, se identificam, lutam e morrem por seus países (Reicher & Hopkins, 2001). Visto que por eles, pouco foi escrito sobre identidade nacional porém terem focado mais no estudo do comportamento do individuo dentro da comunidade, de como ele pensa e se relaciona, reduzindo assim a importância dos sentimentos que lhe fazem sentir-se parte integrante de uma nação. Por volta dos anos 60 surgiram em Moçambique movimentos nacionalistas que tinham como objectivo lutar pela independência do país. Libertar Moçambique da dominação colonial e opressão protagonizada pelo colono, como também o sonho de se verem livres e junto a possibilidade de guiar o destino do país ascendia vontade de lutar incansavelmente para ver o sonho realizado. 

Antes de se dar passos galopantes, é de extrema importância saber-se o que é nacionalismo. Nacionalismo é “uma tomada de consciência por parte dos indivíduos ou grupos de indivíduos numa nação, ou ainda desejo de desenvolver a força, a liberdade ou a prosperidade dessa nação” (Arnaut,1996, Pág. 2). Portanto, movidos por esse sonho ou ambição, nossos heróis dedicaram a sua juventude, outros deram suas vidas na luta da libertação nacional. 

Guiados pelo dever moral de ver Moçambique livre, os heróis nacionais deram suas vidas pela pátria e seguiram firmes na luta da libertação. O sentimento patriótico engajou muitos jovens e adultos as fileiras onde só existia único propósito, único inimigo e um sonho. É assim narrado pelos nossos bisavós e avós aos nossos pais e posteriormente a nós. E nossos pais narram sobre a guerra dos 16 anos, guerra essa que deu origem a novos caminhos à Moçambique e no que vamos contar aos nossos filhos e aos filhos dos nossos filhos.

Primeiramente, devemos olhar para a nossa história, para as motivações e discursos que marcaram as divergentes épocas. Mas antes de tudo devemos entender o que é patriotismo. Patriotismo consiste no desenvolvimento de um sentimento de auto preservação em uma moral do dever, podendo envolver inclusive o autossacrifício (Acton, 1985).  

Ao longo da história de Moçambique deparamo-nos com 4 momentos marcantes no que se refere ao sentimento patriota, momentos esses que passo a destacar:

Primeiro momento – ANTES DA INDEPENDÊNCIA:

Em algum momento pode se confundir o nacionalismo com o patriotismo pois alguns movimentos nacionalistas carregavam consigo alguns valores patriotas que pode se verificar na junção dos vários movimentos nacionalistas existentes na época em uma frente de libertação nacional (FRELIMO), não ainda como um partido político mas sim como uma fusão dos vários grupos nacionalistas que eram movidos pelo mesmo desejo de liberdade. Onde movidos pelo amor à uma organização que se confundia com uma pátria deu-se sangue, suor e a vida sem medo, com garra e determinação. Todos eram chamados a defender uma causa, era um dever moral, a construção do discurso e as suas representações como analisariam os pós-construtivistas nas relações internacionais que eram voltadas à luta de libertação. 

Segundo momento – DEPOIS DA INDEPENDÊNCIA:

Depois de alcançar-se a independência, surge o conceito de um novo homem, isto é, livre da escravidão e dono do seu destino. Acompanhado pela necessidade de criar uma identidade nacional, ascende assim o amor pela pátria. Esse era o propósito de todos moçambicanos, visto que tínhamos um novo desafio que acarretava a dedicação de todos cidadãos, porque depois de tantas tribulações da época colonial, precisávamos nos sentir um só. Vindo a ser rompido pela guerra dos 16 anos, onde estávamos divididos pelo entendimento do destino do país, assim a unidade nacional e bem-estar comum foram colocados em questão. 

Como pode se entender, a identidade nacional, na óptica da psicologia social, pode ser abordada a partir da teoria da Identidade Social. A identidade social pode ser definida como a parcela do autoconceito individual que deriva do conhecimento de pertença a um grupo, juntamente com o valor associado a esta pertença e o seu significado emocional (Tajfel, 1981).

Terceiro momento – PÓS GUERRA DE 16 ANOS (1977-1992):

Assolados pela destruição, perdas e divisão ideológica, viu-se a necessidade de renovar o compromisso pela construção e desenvolvimento do país. Tendo se chamados novamente a colocar o interesse nacional acima do individual, honrar as cores da bandeira e outros símbolos nacionais apesar das adversidades ideológicas.

Quarto momento – NOSSA ÉPOCA, A CHAMADA “GERAÇÃO DA VIRAGEM”:

Falar da geração da viragem quer se referir da juventude actual, jovem do século XXI, que nasceram e cresceram numa realidade diferente aos dos nossos heróis, jovens que marcaram a transição de uma época de turbulência para época de paz.  Mas a esses jovens são feitas a seguintes questões: 

Qual é o seu ou nosso compromisso com a pátria? Qual é o nosso sentimento patriótico? Há vozes que surgem alegando que somos uma geração não patriótica, pouco respeita os símbolos nacionais, pouco se orgulha do país e reduz as nossas conquistas. Quantos estão dispostos a dar suas vidas pelo país? Dizem que somos jovens que perderam interesse aos assuntos políticos, talvés por ser coisa "dos cotas" ou que nada influencia na nossa vida quotidiana. Algures por aí, dizem que não temos um propósito ligado ao Estado, outros dizem que é culpa da geração passada, que não soube passar o bastão a nossa, e como consequência ter-se-á perdido os compromissos e o sentimento patriótico. Quem será o culpado nós ou eles? Ou será que não basta nascer em Moçambique para se sentir comprometido com nação? Não existirão motivos suficientes para nos unirmos em nome da pátria? Será que os acontecimentos de Cabo Delgado não trazem de volta o nosso sentimento patriótico?

Mas dentro dessas adversidades encontramos um Moçambique que necessita do nosso engajamento, que precisa de nós jovens para conduzir o seu destino combater as forças que nos separam e que trazem instabilidade ao nosso bem-estar. O destino do país está nas mãos dos jovens e cabe a eles transformarem o país e dar continuidade ao sacrifício feito pelos nossos heróis.

Mas no final, a questão permanece, o que diremos aos filhos dos nossos filhos sobre o nosso contributo na história do pais e quais foram os nossos actos patriotas?  


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