Qual patriotismo moçambicano no século 21?

QUAL PATRIOTISMO MOÇAMBICANO NO SÉCULO 21?

 

Este texto propõe uma reflexão sobre a pertinência do patriotismo e sua manifestação no presente. Se ele está inserido no século 21, 2020, ele é corolário de acontecimentos do século 20, 1975. Na verdade, este texto é uma tentativa de actualizar a heroicidade de há 45 anos. A heroicidade que caracterizou a luta armada de libertação nacional (1962-1975). Actualizar essa heroicidade ao contexto actual, passe a tautologia. É assim que questões como “quem são os heróis de hoje”, “porquê nos libertamos” ou “que luta precisamos fazer actualmente?” guiam esta exposição.

Advirta-se que não se pode esgotar um assunto tão rico e passional como a luta armada de libertação nacional em apenas duas ou três páginas. Aliás, esse assunto merece uma pesquisa e uma reflexão muito mais prolongada que a exercida no contexto deste texto. Por isso, este texto vai se concentrar em dois ou três argumentos relacionados as questões supramencionadas. O fim é de incitar o debate sobre o Moçambique que se pretende no presente século.    

Primeiramente, a acepção deste texto é de que a Independência nacional é algo positivo. É um fenómeno que nos deixa felizes. Assim, surge a indagação sobre qual foi a necessidade de alcançar a Independência. Esta questão encontra uma das respostas na característica da vida humana, mas também na condição dos moçambicanos durante a colonização. Por um lado, o ser humano é naturalmente uma entidade livre, e tudo o que atenta contra esse apanágio, raramente satisfaz o Homem, e poucas vezes dura. Por outro lado, contrariamente a natureza livre do ser humano, os moçambicanos que viveram durante a colonização portuguesa não gozavam desse apanágio. Pois, durante a colonização, os moçambicanos eram subalternos aos portugueses, não gozando dos mesmos direitos, mas estando no seu país. O que soava paradoxal. Como não ser livre na sua terra?

É assim que vários moçambicanos, anónimos e conhecidos decidiram pôr um termo à essa situação. O que, depois de esforço continuo e resignação de privilégios, efectivou-se e em 1975. O país se tornou independente. Nessora, podemos razoavelmente depreender que dentre vários elementos, a necessidade de tornar-se livre guiou os ideais da luta armada de libertação nacional. Nos recusarmos a liberdade seria trair a causa daqueles que deram suas vidas pelo país há cerca de um século. Avassalarmo-nos uns aos outros seria trair a causa dos libertadores da pátria amada. Ser patriota hoje é continuar a luta pela liberdade do povo moçambicano. Qual liberdade? Liberdade política, liberdade económica, liberdade religiosa, liberdade cultural, etecetera.

Certo, muitas dessas liberdades são adquiridas. Mas, o patriotismo do século 21 exige que se sofistiquem essas liberdades. Que se melhorem e sejam acessíveis para todos moçambicanos, no Norte, no Sul, no Centro do país; dentro ou fora do país; jovens ou adultos; mulheres ou homens; ricos ou pobres; resumindo, independentemente da oposição conceptual que se faça; o Moçambicano deve usufruir desse privilégio que custou sangue. E impedi-lo seria trair a causa da luta.

Seguidamente, hoje também temos heróis como tivemos em 1975. São esses que precisamos encorajar. Podemos começar essa descrição mencionando àqueles que lutam para manter a integridade territorial intacta. Aqueles que legam suas vidas pela pátria, como deram suas vidas pela pátria os heróis do século 20. Homens que em Cabo Delgado defendem Moçambique, são os patriotas actuais. Esses que permitem que dentro do conforto das cidades, possámos criticar suas actuações. Esses que não conhecemos seus nomes e mesmo assim resignam do conforto das cidades para defender o país, são os patriotas do século 21.

Mas a lista não se conclui por aí. Há vários anónimos que lutam por um Moçambique melhor, um país que ofereça dignidade aos seus cidadãos. Permitam-me aqui citar um adagio popular para elucidar este ponto: quanto mais importante seus trabalhos menos visíveis eles são. São esses os patriotas do século 21. Os que nos cuidam, os que nos transportam, os que nos ensinam, os que nos informam, os que nos constroem, os que nos defendem, os que elevam a bandeira dentro e fora do país.

Todavia, neste século, os moçambicanos talvez precisem de um novo compromisso. Um compromisso como aquele que nos guiou na luta heroica e vitoriosa contra uma entidade teoricamente superior. Fazer uma sugestão de tal compromisso se mostraria de uma soberba sem precedentes. Mas ao menos podemos manter vivo o compromisso que nos levou para 1975, enquanto formalmente não surge o novo compromisso. E a ideia que nos levou para 1975 considerava que “libertamo-nos para sermos iguais”. Mas a igualdade é dificilmente aplicada na prática. Talvez teríamos de pensar em solidariedade, equidade e empatia.

Contudo, sem presunção dificilmente acontecem mudanças. Que não percamos a esperança num país melhor para todos seus nacionais. Existe uma frase um tanto quanto idealista, popularizada por Karl Marx, que considera necessário, para uma sociedade justa e equitativa: “De cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual segundo suas necessidades”. Talvez, se trabalhada, essa frase pode oferecer frutos interessantes na prática. Que não se perca a esperança num país melhor. E não perder a esperança significa continuar a seguir os bons hábitos, fazer o que é nosso dever de forma cabal, evitar ser empecilho para os outros e de bons hábitos os fazer constantes. Que não se perca a esperança. Que não se perca a esperança!

 

 

 

 


Comentários

Mensagens populares deste blogue

As Políticas de Comércio Internacional: Do Protecionismo a Globalização Económica

Floresta de Miombo (em Moçambique)

Ilustração Fotográfica da Influência da Guerra Fria nos Nomes das Avenidas da Cidade de Maputo