Complexo Al Aqsa: Entre Unicidade, Conflito e Perspectivas Para Paz

 

O Médio Oriente é uma região historicamente interessante, ao menos desde o fim da primeira guerra mundial e o colapso do Império Otomano. Na verdade, muitos dos Estados e movimentos nacionalistas modernos, no Médio Oriente, surgiram depois do colapso do Império Otomano, que, por exemplo, é “substituído” pelo Estado Turco. Durante o século vinte (XX), vão emergir Estados como Emirados Árabes, Qatar, Irão, Síria, Líbano, entre outros. Contudo, surge igualmente o Estado de Israel, em 1948, sucedendo a autoridade do mandato britânico sobre a Palestina (controle territorial do Reino Unido da Grã Bretanha sobre a Palestina). O mandato britânico iniciou logo depois da primeira guerra mundial (Muirazeque, 2021). Consequentemente, o Estado de Israel foi implantado num território disputado: Palestina.

Dentre as diversas razões da disputa do território Palestiniano, uma delas deve-se ao facto desse território ser um espaço sagrado para três religiões diferentes. Porquanto, Palestina é para os cristãos o lugar aonde Jesus viveu e efetuo diversos milagres; para os Judeus, foi onde Davi estabeleceu seu reino, e onde igualmente Salomão construiu seu templo; e para os muçulmanos é o lugar aonde Mohamad efetuou sua ascensão aos céus (Gorniak, 2018).  Percebe-se então a procura de apropriação de Jerusalém e Palestina pelos diferentes grupos religiosos abramicos –religiões que se desenvolveram tendo Abrão como patriarca. Destarte, os principais grupos que vão disputar o território palestiniano são, por um lado, os Árabes (muçulmanos, cristãos e outros) e por outro lado, Judeus.

Decorre dessa disputa o Conflito Israelo-Árabe e o Conflito Israelo-Palestiniano. O primeiro envolve Israel contra diferentes Estados Árabes do Médio Oriente, como Irão, Iraque, Síria, Jordânia e Egito (Muirazeque, 2021). O segundo envolve Israel e os diferentes movimentos nacionalistas palestinianos, como por exemplo a Organização para Libertação da Palestina. Resumidamente, nos conflitos Israelo-Árabes temos quatro acontecimentos principais: guerra da independência de Israel (ou primeira guerra Israelo-Árabe) – 1948; crise do canal de Suez – 1956; guerra dos seis dias – 1967; e guerra de Yom Kippur – 1973. Nos conflitos Israelo-Palestinianos temos a primeira Intifada – 1987, e a segunda Intifada – 2000.

Ora, o complexo Al-Aqsa se localiza na cidade Jerusalém Este, e é o ponto de intersecção entre Islão, Judaísmo e Cristianismo, como retro exposto. Os judeus chamam-no do Monte do Templo, e é o lugar mais sagrado nessa tradição, aonde existiram dois templos – um destruído no período babilônico e outro pelos romanos – e assim seria o lugar aonde deveria ser erguido o terceiro templo, com a vinda do Messias. Por seu turno, para os muçulmanos é o santuário nobre (Al-Haram Al-Sharif) ou o complexo Al-Aqsa, aonde igualmente se localiza o domo da pedra – lugar em que o Profeta Muhammad (SAW) ascendeu aos céus. É o terceiro lugar sagrado do Islão, depois de Mecaa e Medina. Finalmente, turno, para o cristianismo, a importância do complexo Al-Aqsa nos remete ao antigo testamento – que informa o facto de Jesus ter passado parte de seu tempo naquele local (Al Jazeera English, 2023).

Nos últimos 800 anos foi controlado por muçulmanos. Na verdade, tradicionalmente, a lei judaica proíbe os judeus de rezar dentro do templo, por ser considerado sagrado – de presença divina, por isso rezam fora do complexo, na parede ocidental. Entretanto, com fim da guerra de seis dias, em 1967, e a consequente anexação da Faixa de Gaza e Cisjordânia, incluindo Jerusalém Este – anexação feita por Israel – essa situação mudou. (Al Jazeera English, 2023)

O complexo é, teoricamente, gerido por um Waqf (entidade filantropa) dirigido pela Jordânia. A Jordânia é a administradora nominal do complexo, pelo Waqf ser de lá originário, porém depende do controle de Israel; controle que tem vindo a aumentar. Aliás, o mapa do Estado de Israel tem vindo a expandir-se desde 1948, ano do estabelecimento do Estado israelita. E esse aumento do controle dos territórios sob ocupação decorre principalmente da subida ao poder, em Israel, de grupos suprematistas judeus.  Grupos que atualmente têm influência sobre o governo; e tem assim procurado dominar o complexo Al-Aqsa, em termos de acesso e administração (Al Jazeera English, 2023). Esse domínio tem criado distúrbios nas imediações da Mesquita Al Aqsa, principalmente durante os períodos de Ramadan – mês sagrado para os muçulmanos. Isso é, há regulares desentendimentos devido ao aumento do controle de Israel, sobre Al-Aqsa, e a restrição do uso para os muçulmanos.

Portanto, o complexo Al-Aqsa representa a unicidade e o conflito. Por um lado, representa a unicidade de ser o ponto de convergência entre as religiões islâmica, crista e judaica; religiões que na verdade têm muito em comum, desde as crenças à algumas práticas. Por outro lado, representa conflito devido ao desentendimento político que advém da interpretação díspar e interesses antagônicos em relação a utilização do espaço aonde se localiza o complexo Al Aqsa. E, o conflito, mesmo que seja causado por uma minoria dentro dos grupos em divergência, aparenta ser causado pela maioria. Não será momento de desconstruir as narrativas para uma paz durável?

 

 

Obras Citadas

Al Jazeera English. (1 de Fevereiro de 2023). Wh Al-Aqsa is Key to Understanding the Israeli-Palestinian Conflict | Start Here.

Gorniak, P. (30 de Agosto de 2018). Jerusalem: Entenda o Conflito Por Esse Territorio. Fonte: www.politize.com: https://www.politize.com.br/jerusalem/

Muirazeque, E. (2021). Economia Politica e Conflitos Inter-Estatais no Medio Oriente. Maputo: TPC Editora.

 

 

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