Como o Conflito Russo-ucraniano Condiciona os Esforços de Transição Energética?
Há aproximadamente um ano Rússia lançava sua operação especial na Ucrânia. Tal operação que para Ucrânia é uma invasão militar russa. Para muitos Estados ocidentais, é uma guerra de invasão russa contra Ucrânia. Outros, céticos às atitudes ocidentais consideram uma guerra de procuração da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Veja-se então as diferentes denominações que se dá ao mesmo fenômeno. Neste texto, entretanto, buscando uma eventual neutralidade intelectual, adjectivamos de conflito esse fenômeno de hostilidade aberta entre Rússia e Ucrânia (fortemente apoiada pela OTAN, principalmente Estados Unidos da América – EUA, Alemanha, França e Polónia); conflito russo-ucraniano.
Ora, esse conflito insere-se num contexto de esforços de transição energética. Isso é, o mundo, liderado pela Organização das NaçõesUnidas (ONU), entidade internacional que reúne maioria dos Estados soberanos, incluindo Moçambique, tem procurado transitar de energias fósseis para energias renováveis. Por exemplo, reduzir o uso de gás, petróleo, carvão mineral…e aumentar o uso de hidroenergia, energia eólica, entre outras, até que as últimas substituam as primeiras.. Essa transição assenta-se na ideia de que o uso intensivo de energias fósseis contribui para o aquecimento global, para as mudanças climáticas. Por isso, quando se fala de transição energética se fala de uma componente do desenvolvimento sustentável, de um mecanismo de luta contra as mudanças climáticas.
E no quadro desses esforços de transição energética, os Estados tem feito compromissos, verbais, formais, documentais, para efectivar a transição. Um dos compromissos material, foi o fecho de algumas centrais à carvão na Alemanha. Fechando suas centrais à carvão, Alemanha transmitia o compromisso de reduzir a emissão de Dióxido de Carbono, um dos gases que contribui fortemente para o aquecimento global. E à exemplo da Alemanha, outros Estados, como Áustria, seguiram passos similares (Observador, 2022 ).
Todavia, com o conflito russo-ucraniano, Rússia condicionou o fornecimento de gás para Europa, incluindo Alemanha, que era, este último, um dos principais importadores e consumidores do gás russo. E desse condicionamento resultou que Alemanha reabriu algumas das suas centrais à Carvão e colocou em reserva a probabilidade de voltar a usar centrais à petróleo. Isso é, voltou a usar uma fonte de energia altamente poluente. Porquê? Para satisfazer suas necessidades energéticas. Ora, essa acção foi contrária aos esforços de transição energética, que aliás, são liderados por países europeus.
Aí começamos a ter alguns elementos de resposta para o nosso título: como o conflito russo-ucraniano condiciona os esforços de transição energética? O conflito russo-ucraniano condiciona os esforços de transição energética na medida em que os países que lideram os esforços de transição energética recorrem à fontes fósseis de energia, e altamente poluentes, para fazer face às suas necessidades energéticas. E quando falamos de necessidades energéticas estamos a falar de indústria, economia, sociedade. Isso é, o gás que Rússia fornecia à Alemanha era usado para satisfazer necessidades industriais, nas fábricas; era usado para abastecer determinados veículos automóveis; mas também era usado para as moradias, no aquecimento de água ou das casas.
Pode assim surgir uma questão retórica: os esforços de combate às mudanças climáticas podem ser relegados ao segundo plano para satisfazer esforços de ter uma economia, e por consequência sociedade, preformante? Mutatis Mutandis, a análise não termina por aqui, há um derradeiro elemento, por ora. Um elemento que interessa-nos, país em desenvolvimento.
Esse “retrocesso” nos esforços de transição energética está a ser assistido pelos países em desenvolvimento. Assim, pode ter-se estabelecido um precedente para o futuro. Isso é, os países em desenvolvimento, fortemente dependentes de energias fósseis, salvo alguns casos, podem estar relutantes em assumir protagonismo na transição energética, pois terão assistido os países desenvolvidos a recuar quando a economia e sociedade falaram mais alto. De qualquer forma, o futuro vai determinar o curso dos acontecimentos, e o mais razoável é o equilíbrio entre às energias fósseis e às energias renováveis, até que o desenvolvimento histórico de cada país demonstre o contrário.
Referências Bibliográficas
1. OBSERVADOR, (2022), Alemanha e Áustria Retoman Produção Elétrica A Carvão Para Reduzir Dependência de Gás Russo, Consultado a 03 de Fevereiro de 2023, via https://observador.pt/2022/06/19/alemanha-reforca-armazenamento-e-reabre-centrais-a-carvao-e-doloroso-mas-necessario-reduzir-consumo-de-gas-diz-ministro/
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