Globalização e Suas Implicações: Uma Analise Do Conflito no Norte de Moçambique

 Por, Alfredo J. A. Gamito.

Hoje em dia, as sociedades sentem cada vez mais os impactos da globalização tanto no âmbito interno das nações como no âmbito externo ou internacional. A globalização começou a ganhar destaque a partir do século passado, nos anos de 1960 com difusão dos mercados de capitais e a posterior interdependência económica entre as nações. Porém, a sua origem como palavra está provavelmente associada as produções literárias francesas e americanas.

O conceito encontra hoje expressão em todas as grandes línguas do mundo e provavelmente as de menor expressão desde que foi recriado em 1983 por Theodore Levitt e popularizado por Kenichi Ohmane em 1990. No entanto, várias são as heranças mediadoras que podemos equacionar como tendo estado na génese da sua formulação actual, como o iluminismo, imperialismo, internacionalismo, o pacifismo, o modernismo e o pós-modernismo, assim como o universalismo e o mundialismo, podemos considerar como meio «inspiradores» para um conteúdo mais amplo daquilo que chamamos «globalização» actualmente (Sandra Balão, 2014:227-229).

Segundo Zeca(2013) Globalização é um conjunto de transformações políticas, económicas e culturais que pretendem a integração do mundo e do pensamento num só mercado e numa só comunidade, fruto da velocidade das informações e interconexões entre as sociedades. A ideia da globalização é consequência da velocidade com que, cada vez mais, as informações são processadas.

Uma das grandes implicações da Globalização foi o grande processo evolutivo das telecomunicações, e através deste processo o Terrorismo acabou ganhando uma dimensão transnacional devido à facilidade de interacção entre vários agentes ligados ao terrorismo, e não só.

O Terrorismo é ameaça ou uso da violência-terror-contra populações civis, para intimidar, criar pânico e mudar o comportamento e atitude dos decisores, com vista a materializar um determinado objectivo político, Zeca (2013:227).

As organizações terroristas passaram a ter capacidade para executar ataques em vários países e a receber apoio directo e indirecto de vários Estados. As suas estruturas de comando e controlo e os seus campos de treino, passaram a funcionar em vários países. Por outro lado, graças ao desenvolvimento moderno das comunicações, o terrorismo internacionalizou-se, reproduzindo-se mediaticamente e tornando-se num modo específico de comunicação. Com efeito, a relação custo beneficio criada pelos terroristas relativamente aos meios de execução e o impacto que o terrorismo tem na sociedade civil fazem deste uma arma de dissuasão (Boniface 2001, citado por Silva:2016)

Segundo Fernando Jorge Cardoso do jornal Português, o Observatório , "o grupo sectário que se reivindica do Islão e do Jihad para aterrorizar, destruir e assassinar quem não lhe siga os ditames. Este grupo efectuou um ataque no dia 24 de Março de 2021, que acabou(o grupo) por ocupar durante um periodo e parcialmente a vila de Palma, capital do distrito com o mesmo nome, que faz fronteira o nordeste com à Tanzânia.

Muitos dos Homens ligados ao Ansal-Al-Sunna, são provenientes de outras regiões de África e que através do avanço tecnológico conseguiram garantir uma maior interacção com pessoal local para fortificar a sua organização terrorista. Mesmo ao nível de treinamento muitos deles treinaram em zonas externas ao território moçambicano. Aqui vemos uma clara implicação directa da globalização no fenómeno do terrorismo que acontece na província de Cabo Delegado no Norte de Moçambique, em que ganha a dimensão transnacional

Porém, as implicações da Globalização não foram apenas benéficas ao grupo terrorista, a Globalização de certa maneira também ajudou ao governo de Moçambique a ter facilidade em encontrar parceiros para o combate ao terrorismo. O avanço da tecnologia e das telecomunicações permitiu que outros países do globo prestassem atenção aos acontecimentos no Norte de Moçambique de forma quase que imediata e prestassem a sua solidariedade e prontidão a prestar apoio ao combate, directa ou indirectamente.

O Presidente Filipe Jacinto Nyusi no seu informe à nação, a Assembleia da república em Dezembro de 2020 disse "Muitos países manifestam interesse de apoiar Moçambique. São muitos países, mas muitos mesmo. Mas temos que ter cuidado para evitar uma salada de intervenções. O que temos estado a fazer é dizer o que é que nós queremos, e isso não podemos revelar publicamente"

Sete (7) meses depois do informe do Presidente Filipe Jacinto Nyusi à nação, já começaram a chegar os primeiros contingentes de militares estrangeiros em Cabo Delgado. E as previsões apontavam para a entrada de cerca de quatro (4) mil militares estrangeiros. Entre tropas ruandesas e tropas conjuntas da SADC

Contudo, existem aspectos positivos e negativos referentes as implicações da Globalização. Se a Globalização for analisada como um fenómeno universal e que todos os países estejam de certo modo alinhados, podem surtir efeitos positivos. Ao analisar o assunto de Cabo Delegado, podemos olhar com certa negatividade pelas implicações directas influenciadas pela Globalização ao terrorismo. Mesmo do lado do governo ao aceitar uma intervenção de múltiplos actores (Ruanda, SADC e mesmo formações dos EUA e Portugal) resultantes de uma pressão externa galvanizada pelos (médias) será eficaz essa aposta em múltiplos actores?

Referências Bibliográficas

ZECA, Jovando Emilio(2013) Relações Internacionais: Natureza, Paradigma e Assuntos Transversais, Porto, Plural Editora

SILVA, Teresa de Almeida(2016) Islão e Fundamentalismo Islamico: das Origens ao Século XXI, Lisboa, Pactor

BALÃO, Sandra "Globalização" EM: MENDES, Nuno Canas & Coutinho Francisco(2014) Enciclopédia das Relações Internacionais, Dom Quixote, Alfragide

Centro da Democracia e Desenvolvimento(2021) Militarização de Cabo Delegado

https://cddmoz.org/wp-content/uploads/2021/07/MILITARIZACAO-DE-CABO-DELGADO_-880-militares-e-120-policias-do-Ruanda-3.000-militares-da-SADC_-E-agora-Senhor-Presidente-isto-nao-e-uma-salada-de-intervencoes. [Acedido no dia 03.01.2022,pelas 22horas e 40minutos]

CARDOSO,Fernando Insurgentes, jihadistas,terroristas, Observatório, Lisboa, disp em 2021 https://observador.pt/especiais/cabo-delgado-insurgentes-jihadistas-ou-terroristas/ [Acedido no dia 02 .01.2022 pelas 21horas e 15 minutos]