O SUCESSO DOS DISCURSOS DEMAGÓGICOS EM TEMPOS DE ELEIÇÕES: BREVE RETROSPECTIVA DAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS NORTE-AMERICANAS DE 2016
Realizaram-se
no dia 8 de Novembro de 2016 as 58ªs (quinquagésima oitavas) eleições
presidenciais nos Estados Unidos da América (EUA), que opuseram os candidatos
dos partidos Republicano e Democrático, Donald Trump e Hilary Clinton,
respectivamente. Adicionalmente concorreram outros candidatos mas, sem grande
expressão. É dessas eleições que o presente texto se predispõe à abordar.
Especificamente, sobre como o candidato republicano saio vencedor quando as projeções
indicavam que pela primeira vez na história da “terra das oportunidades” se
teria uma mulher como presidente. O conceito de demagogia foi escolhido para
compreender essa vitória um tanto quanto inesperada de Donald Trump.
Demagogia
é percebida como o uso de argumentos popularistas e emotivos para conseguir
obter ganhos políticos; ademais, os discursos são muitas vezes infundados ou
pouco materializáveis. Aqui, nos despimos da visão pejorativa que o termo carrega.
Donald Trump usou a demagogia, argumentos falaciosos (Per Faz Et Nefas, Argumentum Ad Passiones, Mislead Vividness, Defective Induction, entre outros). Ora, veja-se que, Donald Trump apelou a união dos
“verdadeiros” americanos (muitas vezes interpretados como os de raça branca e,
descendentes de europeus ou países com população maioritariamente brancos da Commonwealth)
contra os não americanos – latinos, alguns afro-americanos e outros imigrantes
de países islâmicos; subsequentemente, Trump definiu-se como o defensor dos EUA
contra seus “inimigos”, sendo eles a China (economicamente), os muçulmanos
assumidos como terroristas, os latino-americanos, principalmente os mexicanos
pelo tráfico de drogas e pela mão-de-obra barata que fornecem, “roubando”
emprego ao americano propriamente dito, entre outros. Importa mencionar que as
palavras entre aspas são fonte de relatividade excessiva, por isso seu cuidado.
Continuando, Trump fez acusações: disse que Hilary Clinton era corrupta,
defendeu que Barack Obama não havia nascido nos EUA – birther movement –, disse que as eleições estavam comprometidas ao
favor de Hilary Clinton, ect. Quanto as promessas, Trump prometeu crescimento
económico à margem de 3%, rentabilizar a segurança que os EUA “oferecem” aos
países membros da North Atlantic Treaty
Organization (NATO), acabar com os lobistas na Casa Branca, erradicar o
Estado Islâmico do Levante e Iraque (EI); invalidar o North Atlantic Free Trade Agreement (NAFTA); processar
judicialmente Hilary Clinton, entre outros pontos; seriam/serão esses
objectivos operacionalizáveis? Concentremos o texto em duas situações – doméstica
e internacional – que culminam em único ponto: conquista das mentes e corações.
Por
um lado, domesticamente os EUA ainda
se ressentem do preconceito racial, não obstante a evolução permitida pela
emancipação e pelos direitos civis; e determinadas divisões étnico-culturais permanecem
enraizadas nos seus cidadãos. Trump usou essa divisão à seu favor. Politicamente,
Hilary Clinton detinha mais vantagens que Donald Trump: Hilary Clinton é esposa
de um dos presidentes mais amados dos EUA, Bill Clinton (mesmo depois dos escândalos
sexuais, que mais fortaleceram Hilary), foi senadora e secretária de Estado, o
último, um dos cargos mais importantes dos EUA estando na 4ª (quarta) posição
na linha de sucessão do Presidente. Donald Trump, forte economicamente, mas sem
qualquer experiencia de serviço público, tinha poucas chances olhando-se para a
história presidencial dos EUA e dos dois concorrentes, sem contar que o partido
Democrático estava sólido com a aprovação popular do actual Presidente dos EUA
à volta de 40% - 50%.
Entretanto,
Donald Trump venceu as eleições. Mais de 70% da população norte-americana é
branca e boa percentagem desta votou em Trump, de forma geral, o que sugere
“voto racial”. Entretanto, houve afro-americanos e latino-americanos que
votaram em Trump: discursos dicótomos também foram característica da campanha
de Trump, confundindo até os eleitores que a
priori pareciam os menos favoráveis a votar em Trump, como aconteceu no
Estado da Flórida, local de forte concentração de latino-americanos e onde
verificou-se vitoria de Trump. Lembremo-nos de que o período de eleições, em
qualquer parte do mundo, permite migração de pensamentos sobre mudança, não foi
diferente nos EUA. O que Trump conseguiu fazer, foi apelar às emoções e
confundir os eleitores: os brancos, maioria, viram representatividade e anseios
reflectidos em Trump, anseios que eram ”taboos” (islamofóbia, afrofóbia, ect)
até bem pouco tempo; as minorias, poucos eleitores como sugestivo, votaram na
ideia de mudança. Trump dividiu para reinar, e vai reinar, pelo menos nos
próximos 4 (quatro anos).
Por
outro lado, internacionalmente, os
EUA sentem de forma realística a ameaça económica do século: China. A luta
contra o terrorismo criou o EI. O Reino Unido discute sua saída da União
Europeia (EU). O Japão e a Correia do Sul têm sua segurança (nuclear) atrelada
aos EUA face a um eventual ataque norte-coreano; adicionalmente, a NATO, na perspectiva
de Trump. A Rússia vem ressurgindo liderada por Putin. O NAFTA parece
beneficiar mais México e Canada em relação aos EUA, na perspectiva de Trump.
Esses aspectos, precisavam de respostas eufóricas, não apenas para o cidadão ordinário
mas, também para o cidadão percebido como intelectual. Foi o que Trump fez: sobre
a China, Trump usou a estratégia que alguns chamariam de “fuga para frente”,
isto é, culpou a China pelos problemas económicos dos EUA, falando da desvalorização
consciente e regular do Renmibi/Yuan – moeda chinesa – face ao dólar
norte-americano objectivando ganhos chineses às expensas dos EUA; elaborou um
pensamento de relações mais amigáveis e cooperativas com a Rússia; culpou a
administração Obama pela criação do EI, mesmo que a história direcione-nos à administração
Bush; ainda, defendeu ideias sobre as mudanças climáticas serem uma invenção
para atrasar a economia americana, não mencionando outros aspectos. Em
contrapartida, Hilary apresentava argumentos mais lógicos e pró-manutenção do status-quo internacional, com pequenas
nuances.
As
posições que Donald Trump defendia e seu comportamento irreverente criavam percepções
de absurdismo perante os eleitores. As eleições migram ideias de mudança. Aí
Trump conseguiu conquistar os americanos (que votaram-lhe). No entanto, pode-se
dizer que os discursos demagógicos não foram de todo eficientes, já que Hilary
Clinton conseguiu maior parte dos votos populares mas, Trump venceu onde
realmente “importava vencer” e consegui maior número de votos do colégio
eleitoral.
Todavia,
depois de se ter anunciado os resultados das eleições, Trump mostrou-se mais
sóbrio e menos populista em seus discursos, embora ter mantido algumas
promessas que fez na campanha. Essa sobriedade sugere que houve momentos na
campanha em que foi pertinente fazer promessas que apelariam o coração do eleitorado
e que como presidente, dificilmente cumprirá com tais promessas. Se antes,
durante a campanha, Trump parecia divisionista, missiogenista, racista,
etnocentrista, entre outros “maus istas”, na recente entrevista que concedeu ao
60 minutes da CBS, por meio de Lesley Stahl, Trump aparece mais conciliador. Anteriormente
menosprezava e criticava veementemente Barack Obama (foi activo com o birther movement, por exemplo); agora
elogia e vislumbra um futuro cooperativo. Antes chamava os muçulmanos de
terroristas e era séptico quanto às outras minorias; actualmente, condena as
manifestações racistas de seus apoiantes. Prometera processar Hilary Clinton;
hoje não garante com certeza que vai cumprir tal promessa, aliás no seu discurso
de vitória, Trump diz que a América deve à Hilary pelo seu contributo ao país;
e mais, depois de um encontro com o Primeiro-ministro japonês, não há certezas
de materialização de suas promessas quanto a política dos EUA face ao Japão e
Correia do Sul. É agora acusado de trabalhar com os memsos lobistas que
criticara, justificando ser imposição do sistema político vigente.
Portanto,
nota-se que boa parte dos discursos proferidos por Trump durante a campanha
foram ocasionais e apelantes à emoção. Contudo, devido às incertezas que
caracterizam os ambientes e decisões políticas, Trump pode, de alguma forma,
operacionalizar algumas decisões que antes se perceberam como parte da
demagogia por ele usada, entretanto, dificilmente aconteceria.
Por:
Amade
Casimiro Nacir
Parte
da informação retirada de:
CBS:
60 minutes
Rádio
BBC África
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